Fotografia: Mjustino

Um olhar assim, capaz de destapar uma alma, deixa-nos despidos de palavras. Aconteceu-me. Cruzei-me com o pastor num dia de céu duvidoso, numa destas estradas recortadas do Alentejo a que muitos chamam perdido, mas que a mim me parece apenas escondido dos olhares mundanos. Tranquilo, sereno, discreto nos seus vales e curvas suaves, com uma paisagem linda e de lindas árvores, arbustos, flores de múltiplos tons e cores e cheiros e cheiros e cores e tons... e eu a passar de carro, brando, e ele ali, sentado junto à berma num ermo sombrio, sossegado. O carro seguia e os meus olhos permaneciam naquela imagem que se desprendia da paisagem. Travei, o carro e o tempo, para me juntar ao seu olhar cheio de um mundo denso que naquele momento se tornou meu.