A obsessão de Fernando Guerra

Num tempo em que nada resiste e perdura, os resistentes, aquilo e aqueles que se mantém fieis a um destino que parece teimar em conduzi-los sem desvios, converteram-se numa minoria. Uma raridade.

o Fernando Guerra é um fotógrafo de arquitectura, responde aos desafios através do conhecimento técnico e como especialista. Significa pois que não é nem se coloca num patamar de fotógrafo-artista. O seu trabalho vive no campo da imparcialidade. Se porventura manipula uma imagem, retirando o que considera algum excesso de realismo, fá-lo com a consciência que opera sobre um excesso, não transfere um desejo ou intenção de fazer arquitectura, não se sobrepõe ao protagonismo da obra em si e à assinatura do seu autor.

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O percurso, a consistência de um percurso, é algo que me interessa particularmente como agente no campo das artes visuais, porque o tempo continua a ser o mais feroz avaliador. E hoje mais do que nunca sobrevoamos uma neblina de conceitos e imagens difusas que geram tremendos equívocos.

Na história de Fernando Guerra o céu é azul e não há lugar à dúvida: são 20 anos ininterruptos a fotografar projectos dos mais conceituados arquitectos mundiais. E se a arquitectura conquistou um estatuto e lugar de destaque como disciplina de autor, a fotografia arquitectónica precede-a e caminha ao seu lado.

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Sem querer e sem o desejar, converteu-se num fotógrafo ícone. Editou mais de 1000 reportagens. Ganhou diversos prémios internacionais. Publicou livros e imagens nas principais revistas mundiais. As suas fotografias são seguidas online por dezenas de milhar de pessoas. Mas tudo isto, que não é pouco, não é de facto o centro do Fernando Guerra, nem o que me interessa no Fernando Guerra.

Fotografar é para ele uma obsessão. É neste plano que gosto de me focar. É neste ponto que conquista um plano de autor. Já não está na sua mão. É um reflexo, uma projecção natural do seu trabalho.

E nesta aparente infinita viagem do seu olhar, mais e mais precisamos de ler os registos tendo em conta que as fronteiras do nosso tempo são lugares singulares, mais e mais democráticos nas linhas ténues com que se reinventam. Fotógrafo ou autor? Ambos. Espaço público ou privado? Ambos. Grupo ou pessoa? Ambos. Arquitetura ou arquitecto? Ambos. A obsessão conduz à perfeição e a perfeição não tem cor, raça ou género… é simplesmente perfeita!

www.studiofguerra.com