De pai para filho de filho para pai para filho

A 10 de Janeiro de 2015 nascia o meu filho Mateo. A 18 de Agosto de 2015 morria o meu pai, faz hoje 5 anos. Eu ainda estou no meio deles. Ao meu pai sussurro a passagem do filho que virou pai. O meu filho é uma flor de cheiros. E como posso dizer meu a um aroma solto ao vento? É  pequeno mas já percebi, vai ser construtor de naves espaciais. Engenheiro aeroespacial. Nome oficial. Quando crescer será outro, como ele, porque tudo muda, menos a imaginação de uma criança. E a vontade. E ele já se decidiu. No seu tempo haverá naves a circular. Eu não tenho mão. Nem ele me disse. Tem carácter. Vontade própria. Não imagina que o espaço está para lá do chão que pisa e da pele que sente. Não lhe importa. E um pai percebe, intui tanto quanto se engana. Mas percebe. Os filhos pequenos são pequenas pessoas. Precisam de amparo mas têm as suas regras. Custa-nos. Eu tento impor as minhas. Uma versão oficial, sistematizada. Faço-lhe chegar ideias. Peças soltas. Ele desconfia. O Teo tem um circuito elaborado, a sua própria máquina. Resultado de uma qualquer fusão interna que eu não entendo. Nem pretendo. Mas confesso, irrita-me a ausência de domínio intelectual. Para já faz o seu papel de criança. E é um ótimo ator. Brinca com qualquer cana ao ponto de a fazer obedecer aos seus desígnios. É mágico, portanto. Duplamente mágico porque não satisfeito em transformar pedras em rosas ainda tem o dom de me encantar.