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Fátima Melo, a minha mãe pintora

September 26, 2018 João Miguel Justino
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Sobre a minha mãe. 09 de Março de 1970, hospital no Funchal. Dei a primeira golfada de ar e berrei. Tudo normal, cheguei vivo e reivindicativo e assim me mantenho. A minha mãe via nascer o terceiro e o último dos seus filhos. Foi há mais de 48 anos. Hoje que escrevo sobre a minha mãe percebo que nunca deixámos verdadeiramente de ser crianças. Vestimos muitas peles, traçamos rotas, partimos, despimos e vestimos, vestimos e despimos, navegamos a favor e por vezes contra a corrente. Mas o tempo é nada. Demora mas depois passa.

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A jovem revolucionária Fátima soube hastear a bandeira. Na época e para a época já tinha o seu porta moedas pessoal e vestia calças de ganga. Gostava do meio das artes. Coincidência ou não, tal como aconteceu com o meu pai, quis ser pintora. A sua mãe não deixou. Começou por dar aulas, mas não chegava. Aos 21 anos casou e rumou com o meu pai. Depois foi nossa mãe.

Meados dos anos 70, Lisboa, uma mulher elegante e sorridente caminha no Chiado. Vira na Rua Ivens em direcção à Faculdade de Belas Artes. A seu lado uma criança de 5 anos observa. Era eu, orgulhoso. Éramos nós num tempo suave. Sobravam sorrisos. A minha mãe frequentava as aulas de desenho. Eu assistia. Observava e observar passaria a ser para sempre o meu posto de comando. Ela formou-se e passou a ser oficialmente pintora.

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Falo do tempo antes de falar de pintura, porque há uma cronologia que nos habita. Há uma história de um tempo comum que deixa marcas e identidade. Não se pode evitar, não se pode fugir. Um poema será sempre poesia, mas a sua sonoridade, própria e fugaz, identifica um tempo que não se repete.

Vivia-se o pós 25 de Abril. Sobravam ideais. Tudo a preto e branco, tudo escasso. Tudo menos o entusiasmo, esse surgia a cada esquina e em abundância. O horizonte apelava, cantava esperança. Eram estas as riquezas da época, chegavam através da alma e pela alma saíam. E por isso mencionei a poesia. Era ela o móbil de todos os crimes, de todos os amores, de toda a política, de toda a economia e de todas as artes, Por ela se vivia, por ela se morria.

E na escassez o belo surge como resposta e mote de sobrevivência, o belo como luta contra a opressão. O belo sinónimo de poesia, a poesia sinónimo de vida. Tudo e todos conjuraram à sua volta. Uma geração vincada pelo despertar da individualidade, mas assente nos ideais do conjunto.

Vi e vivi tudo isto na companhia daquela jovem mãe: a poesia, a escassez, a luta, a esperança, o belo… primeiro e sempre no seu posto de progenitora, abdicando, abdicando, abdicando, abdicando sempre em prol do seu ar, os filhos. E depois então vinha a pintura. Pintava ao som de música e cigarros, falava com um tom de poesia. Parava para mudar o disco. Ecoava Brel, Vinicius, Buarque… habituei-me a observar aquela solidão que a pintura transporta e se abateu sobre os meus pais. Penso que só por isso me atrevo a falar e a escrever sobre o que vejo.

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Naquele ponto de partida o tempo era outro. Nunca houve uma necessidade de teorizar e de justificar a sua pintura. O belo bastava. O princípio de uma estética, a capacidade de a exercitar, a mestria e um discurso coerente no tempo. Era isto. O grande desafio foi sempre o de partir para uma folha ou uma tela em branco.

Tendo no desenho a base de aprendizagem, usando-nos a nós filhos como primeiros modelos nas noites mais solitárias de Inverno, o seu movimento fixou-se na forma humana. Evoluiu posteriormente para um caminho poético, conectando o imaginário da sua infância. Menina única, órfã de pai. As bonecas serão porventura o seu mote expiatório? Não sei. Mas sei que a poesia que ela transporta consigo é um espelho da humanidade, arrasta beleza, mas também transporta dor e morte.

Aquele pó fino e entranhado que se desprende dos pastel seco nunca mais a abandonou. Mantém o atelier em casa, mantém a filiação com a pintura. A poesia continua a correr. A vida dada às suas bonecas continua a ser tocada com as pontas dos seus dedos.

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Os dias correm. O cenário mudou. Despimos-nos da poesia vivida com uma grande arrogância. Ganhámos medo dos sentimentos, dos afectos, da ideia de belo, simplesmente porque estamos exaustos e vazios de um ideal. Já não nos basta o belo, é verdade. O enredo tomou posse de nós, criou um circuito. Mas o belo, apesar do atropelo, tal como o amor, o sorriso e o altruísmo, são porventura os únicos e verdadeiros espaços de salvação.

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