Bienal de Cerveira, início dos anos 80. Sou a personagem à esquerda da imagem, com cabelo à pajem. Observo o fim de uma performance. Uma artista nua deambulou por cima de um lençol, picando os dedos e usando o seu sangue. Não me perguntem o âmago da dita performance, à data limitava-me a ver e a procurar manter a boca fechada face ao espanto. Quando regresso ao presente e observo a linha do tempo, continuo a ficar muitas vezes espantado, como nos dias de hoje o campo das artes alimenta uma vaga de conceptualismo massificada, tantas vezes assente numa suposta virgindade e visão introspectiva e filosófica do mundo, do novo mundo... quando ali, na pacata vila de Cerveira, sem telemóveis, Internet e afins... já lá estavam os mesmos Joseph Beuys, Duchamps e companhia... todos diferentes, todos iguais. O mundo é um playground e a história circular.