Disclaimer - Fotografia e Escrita
Creditei-me como observador profissional. Construí uma história paralela na área da comunicação. O meu olhar tem uma vontade indomável, da sua densidade latente sobressai a capacidade de construir e apresentar narrativas. Procuro dar corpo a formas que encaixem no mundo das pessoas. Sempre procurei estar perto da humanidade. Sempre procurei um fio delicado no encontro das palavras que quero levar. Frequentei uma escola de fotografia e cursos de escrita criativa. Nunca me senti confortável nos caminhos traçados por outros. Nunca me adaptei a escolas. Balanço sempre entre a luz e a sombra. No percurso destes últimos anos apercebi-me de que não me tinha dado a oportunidade de criar, não me tinha permitido sair dos bastidores. Voltei à fotografia e ganhei coragem para enfrentar a escrita. Ambos os territórios são de uma extrema exigência. Não basta o desejo, não chega o domínio da técnica, por vezes nem a força da exaustão. A extraordinária vida dos seres humanos está recheada de banalidade. Ousar acercar-se ao de leve do sublime, sentir o aflorar do belo, requer humildade e a coragem de sair à procura de um rasgão que pode não surgir, que pode não ser suficiente. São processos solitários e dolorosos, uma batalha entre o querer e o alcançar. Aqui afloro os meus processos, não há certo ou errado naquilo que faço, sou eu.
Disclaimer - Art Advisor
Durante anos, enquanto galerista, trabalhei com inúmeros artistas plásticos. Promovi encontros. Lancei autores. Apresentei múltiplas exposições. Criei pontes. Foi um tempo único e emocionante. Hoje, não acredito no modelo de galeria, ainda que lhe reconheça o mérito do acolhimento e da porta aberta. O mundo tornou-se demasiado amplo.
Sou filho de pais pintores e professores, cresci numa casa casa com um atelier vivido e paredes coloridas, desenhadas por múltiplas mãos. Tal como o filho de um agricultor, que não precisa do curso para reconhecer a fertilidade da terra e a qualidade da seiva, a vivência dos meus pais constituiu a minha história, formou o meu olhar de observador atento e crítico. Os amigos lá de casa eram artistas. Gostavam de encontros e de conversar. Lembro-me que naquele tempo se falava tanto quanto se fumava, muito. Mas cheirava a liberdade. Nos jantares em que me sentei como criança convidada, havia pintores, poetas, cantores, pensadores, escultores e ilusionistas. Ali era o centro do mundo. Passei a conhecer a sua linguagem rara e a interpretar os seus gestos. Hoje partilho com eles desse corpo comum. Fui educado a ter um olhar eclético, porque o mundo, esplendoroso na sua estonteante diversidade, oferece-nos esse abraço; mas sou canino na avaliação individual, porque há uma fronteira, nem sempre visível a um olhar pouco treinado, que merece ser cartografada. Por vezes, determinado desenho não é digno da grandeza do pintor, e no entanto, ao levá-lo dentro de si, é dominado por uma aura que o eleva. Neste campo do meu conhecimento, convido-vos a ler algumas das narrativas vos proponho no menu atelier e artistas. Deixo-vos com esta imensa diversidade de autores/imagens/caminhos (sem legenda) de forma propositada e desafiadora. O limite é a a escala da nossa fronteira mas, para lá dela, há caminhos assombrosos por explorar. Essa é a minha proposta de trabalho.