PRESS RELEASE

 

NUNO NUNES-FERREIRA

A CUCA AJUDA A UPA, A NOCAL AJUDA PORTUGAL!

11 NOV A 19 DEZ 2015

 

A exposição de Nuno Nunes Ferreira intitula-se A CUCA AJUDA A UPA, A NOCAL AJUDA PORTUGAL!, um slogan que tem correspondências políticas e recupera a memória da guerra colonial travada nas ex-colónias portuguesas, mais especificamente em Angola. O projecto expositivo revela uma forte unidade nos elementos que integram cada uma das obras, devido ao uso como matriz  do carácter auto-referencial da sua pesquisa.

O artista reporta-se principalmente ao período em que o seu pai foi combatente na Guerra do Ultramar, às memórias, objectos, estórias e silêncios que este lhe transmitiu, uma vez regressado à vida civil. A Cuca e a Nocal (1) eram as cervejas que se bebericavam nos momentos de descanso, ansiosos mas afastados dos combates.

O universo ultramarino que o artista trabalha, perseguindo a sua prática de arquivista metódico e compulsivo, abre diversos campos de questionamento sobre as memórias de África, mais precisamente de Angola. Na sua prática artística, o artista colige documentos e artefactos que não perdem de vista os movimentos de libertação e a propaganda demagógica do regime salazarista, acompanhada pelas edições resistentes que contribuíram para a desagregação desse regime, que afectou a nossa identidade enquanto império caduco e todos aqueles que, nascidos em Portugal ou nas ex-colónias, chegaram a Portugal como “retornados” (também auto-denominados “espoliados das ex-colónias”) de uma terra que pertencendo a todos (os do império), apenas não pertencia àqueles que a ocuparam e dominaram durante séculos.

De uma das obras emana um sussurro que se transforma numa marcha militar: “Angola… É Nossa”. Palavras cantadas por homens sem utopia, reféns de um tempo que não conhecia a Liberdade, conceito que tragicamente ainda hoje não conquistou a sua plena legitimidade.

(1)  A Cuca era fabricada por uma empresa derivada da Central de Cervejas Portuguesa, enquanto a Nocal era um produto da Nova Empresa de Cervejas de Angola.

João Silvério
Curador